Diário Explica: entenda o conflito entre israelenses e palestinos

Diário Explica: entenda o conflito entre israelenses e palestinos

Foto: reprodução


No último sábado (7) o grupo palestino Hamas atacou Israel vitimando mais de 1.830 pessoas. O ataque aconteceu durante o feriado judaico Yom Kippur, o Dia do Perdão. Era um dia de comemorações religiosas. Homens armados começaram a atirar contra o público e acabaram fazendo outros reféns. Cerca de 2.000 foguetes foram disparados da Faixa de Gaza. 


A invasão surpreendeu os 3 mil participantes de um festival que ocorria próxima da Faixa de Gaza. 260 pessoas morreram ali.


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Qual a motivação do ataque?

O ataque, apesar de repentino, é um reflexo de um conflito muito antigo. Segundo o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Igor Castellano, os embates entre os envolvidos são corriqueiros, contudo a quantidade de armamento e o número de participantes neste ano voltou novamente os olhares do mundo para as guerras no local: 


— Parece um conflito imediato. Os fatos são atordoantes pela violência, brutalidade e a retaliação por parte de Israel. Mas o conflito do Estado de Israel e Hamas, que é quem controla desde 2007 a Faixa de Gaza, é bem antigo. 


Conforme explica o professor, o conflito é herdado de uma relação de guerra constante entre Israel e países árabes, desde a independência de Israel em 1948. Antes disso, até mesmo durante o fim da Primeira Guerra Mundial, havia algumas disputas na região. A área que engloba Israel, Egito, Líbano e Jordânia, é uma região disputada por grandes potências: 


— Desde a Primeira Guerra temos uma indefinição sobre os rumos das entidades políticas daquela região. Era uma região disputada pelos povos árabes que lutaram na Primeira Guerra Mundial em apoio ao Reino Unido e à França contra o império turco-otomano, que era quem governava aquele local por séculos. 


Com o fim do mandato britânico sobre a Palestina, coube à Organização das Nações Unidas (ONU) buscar uma solução. Em 1947, foi proposta a criação de dois estados, mas os árabes rejeitaram o acordo, alegando que ficariam com as terras com menos recursos. Ainda assim, os judeus celebraram a criação do Estado de Israel em 1948. De lá para cá, em meio a violentos conflitos, Israel foi ampliando suas fronteiras. Por sua vez, os palestinos que vivem na região estão divididos em dois territórios que não têm, entre si, conexão por terra: a Faixa de Gaza e a Cisjordânia.


— Quando se forma o Estado de Israel, os árabes não aceitam a sua formação, até porque ela não estava em acordo com as grandes potências e representações árabes. Foi visto como uma apunhalada. Desde este anúncio, em 1947, ocorreram diversas guerras, a Guerra de Suez, a Guerra dos Seis Dias, a de Yom Kippur e outros conflitos.       


O ataque

Foi na Guerra dos Seis Dias, ocorrida entre 5 e 10 de junho de 1967, que Israel tomou alguns territórios, expandindo seu tamanho original. A situação se agrava pelo fato de Israel deter a soberania do território no qual a Faixa de Gaza está inserida. 


O ataque recente aconteceu na Faixa de Gaza, um território palestino. Ela tem cerca de 40 km de comprimento e 12 km de largura. A principal característica do local é a superpopulação, são 2,1 milhões de pessoas habitando esta estreita faixa de terra. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), é o local com maior densidade populacional do mundo. A área, desde 2007, está sob controle do grupo Hamas. Com as restrições impostas por Israel, a população tem dificuldade de acesso à alimentação e cuidados básicos de saúde, como explica Castellano: 


— É um território que carece de muitos recursos, energia elétrica, alimentos, medicação. Além disso, o fluxo daquela população, que é em sua maioria palestinos e refugiados, é controlado por Israel. 


A Faixa de Gaza é uma parte do território reconhecido da Palestina pelo tratado de Oslo na década de 1990. A outra parte fica na Cisjordânia. Contudo, neste local, os palestinos são responsáveis apenas pelas políticas sociais internas, como Saúde e Educação, explica o professor. Quem está diante das forças armadas, política externa e controle populacional na Cisjordânia é Israel: 


— Podemos chamar de proto-Estado, não são Estados efetivamente soberanos. Com isso, sendo controlados por Israel, faz com que ocorra a existência de vários grupos armados que clamam por independência. O Hamas é um deles. Ele surge em 1987 e utiliza destes ataques a civis como parte da sua forma de atuação. 


Ainda em 2000 o grupo começa a se organizar politicamente dentro de partidos na Palestina. Em 2006, ele é eleito como o partido que poderia indicar um primeiro-ministro: 


— Só que aí, Israel e o quarteto que faz as negociações – Estados Unidos, Rússia, Europa e ONU –, não reconhecem o Hamas como um grupo político nas eleições. Em 2007, como consequência, assume um governo na Faixa de Gaza que não é reconhecido por Israel. Mas aí, Israel também “permite” que este governo exista. Todo ano, praticamente, temos uma intervenção de Israel na Faixa de Gaza. 


O professor explica que há muitos túneis no território, o grupo se dispersa pela cidade e em decorrência disso Israel ataca de forma indiscriminada a população. Os principais afetados são os civis, a população palestina. 


Para comparar o tamanho do território e população entre Santa Maria e Faixa de Gaza

  • Santa Maria - 1.788,1 km² e 282 123 habitantes
  • Faixa de Gaza - 365 km² e 2,1 milhões de habitantes

Impacto no Brasil

O Brasil é afetado indiretamente pelo conflito. No país há aproximadamente 60 mil palestinos refugiados. Só no Rio Grande do Sul seriam 30 mil. O Uruguai, país vizinho ao Estado, é um dos países que acolhe diversas comunidades, como pontua o professor. É um país de “abertura diplomática e de grande recepção”. Em decorrência disso, muitos acabam se deslocando para o RS. 


Questionado sobre uma possível intervenção externa, Castellano explica que já aconteceu em outros momentos. O Brasil já teria tentado, com dificuldades, exercer um papel de mediação: 


– O Brasil já deu sinais para auxiliar na mediação, mas teve dificuldades em várias ocasiões. Os Estados Unidos já auxilia Israel, assim como o Irã, e de forma mais implícita a Rússia e China. Assim, é difícil dizer como estes países viriam um terceiro para atuar na mediação. Caso o Brasil tivesse apoio da União Europeia, ou dos demais países grandes envolvidos no conflito, aí sim seria possível algum tipo de mediação. 


Vítimas brasileiras

Até esta terça-feira (10) foram confirmadas duas mortes de brasileiros.  Bruna Valeanu e Ranani Glazer desapareceram no sábado (7). Os dois estavam na festa que foi atacada pelo grupo palestino. Ainda outras duas brasileiras estão desaparecidas. 


Bruna nasceu no Rio de Janeiro e morava em Petah Tikva. Ela cursava Comunicação e Arte.  A família confirmou a morte nas redes sociais. Ranani era de Porto Alegre e prestou serviço militar em Israel. Trabalhava como entregador em Tel Aviv. 


Karla Stelzer Mendes, que também estava no festival, é natural do Rio de Janeiro e mora em Israel há 11 anos, em Bet Ezr. Celeste Fishbein tem dupla nacionalidade e mora em uma comunidade rural próxima a Faixa de Gaza. 


Nas redes sociais, o governo brasileiro publicou que o primeiro voo de repatriados chegou ao Brasil na madrugada desta quarta-feira (11), com 211 pessoas que estavam em Israel. O governo anunciou, ainda, que até o fim de semana 9.000 brasileiros devem voltar ao Brasil. A Operação Volta em Paz terá cinco voos.   

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Letícia Almansa Klusener

leticia.almansa@diariosm.com.br

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